(Capítulo do livro: Terra Nova. Revolução Global e a Cura do Amor)

Vivemos tempos de mudança. Estamos perante uma renovação planetária que não podíamos ver quando combatíamos o sistema com slogans anti-fascista no movimento dos estudantes do século passado. O fascismo latente está presente em todo o lado; é o cancro da humanidade. E não é eficaz combater o fascismo com ideologias, assim não mudaremos muito. Assim que entendamos o que realmente aconteceu na Alemanha fascista de Hitler, as coisas grotescas que foram feitas, ou pelo menos aceites, a milhões de habitantes, todos os slogans anti-fascistas e todas as garantias de democracia perdem voz, já que é outro o tema que está em discussão.

O fascismo é um componente inerente à sociedade actual. Ele nasce no subconsciente das relações humanas. Nos substratos emocionais de uma civilização sem rumo nascem os pensamentos horríveis que levaram ao nazismo na Alemanha, e que actualmente estão por detrás de atrocidades muito semelhantes a ocorrer em vários países à face da Terra.

De modo a superarmos o fascismo necessitamos de um novo modelo civilizacional que permita uma renovação fundamental nos tópicos centrais da vida humana, como o sexo, o amor, e a comunidade. É nestes que encontramos as origens de tais pensamentos da emergente violência fascista. Alice Miller estudou as biografias dos mais conhecidos ditadores e criminosos, e chegou sempre à mesma conclusão: quando os pensamentos e as emoções são reprimidas desde a infância, as sementes do ódio e da violência são cultivadas.

Nos locais aonde os sistemas jurídico e moral já não suficientes para controlar a violência, a crueldade que actualmente devasta o planeta é bem visível. Não queria voltar a tocar no mesmo assunto, mas a tragédia dos nossos tempos assim o requer. Na televisão vi uma mãe norte-americana cujo filho, um soldado no Iraque, tinha sido morto. Foi-lhe dito que ele foi morto pelos militares que defendiam o antigo regime. O que ela não sabia é que ele foi posto num carro e que o levaram até à morte (os próprios Americanos tiveram acções semelhantes). Não se trata somente da violência do assassinato, mas da maneira violenta como o próprio assassinato é tratado. Quem são os assassinos, e porque fizeram isto? Se formos a ler as biografias dos assassinos, dificilmente encontraremos pessoas que tiveram uma infância feliz e envolta de pessoas de confiança.

O fascismo é o resultado de uma repressão sexual e emocional colectiva, assim como de uma marginalização colectiva. Como observou Wilhelm Reich, os Alemães apoiaram o regime fascista de Hitler porque foram proibidos de expressar as suas energias sexuais e emocionais elementares durante séculos. Desde esta perspectiva, percebemos o quão importante é que libertemos as nossas relações sexuais e emocionais de toda a falsidade e malícia, se pretendemos construir um futuro sem violência. Em Tamera estabelecemos um exercício de pesquisa ao qual chamamos “trauma work” (“trabalho de trauma”) ou “the dissolution of inner minefields” (“a decomposição dos campos minados interiores”). Fazemos isto com a convicção de que precisamos de concentrar as nossas energias positivas para que os nossos conflitos internos não nos levem mais a pensamentos ou acções fascistas. Assim que a comunidade tenha criado uma energia positiva estável, nada de terrível pode acontecer se dois partidos se encontram em conflito. Estas são energias de confiança. Se este processo é omitido, a comunidade desmorona-se. Dentro de cada comunidade falhada, um sonho morre; as pessoas envolvidas ficam confusas e desapontadas uma vez mais. Os dias de hoje estão cheios de tais experiências negativas. Durante as últimas décadas, milhares de comunidades à volta do mundo se desintegraram, e essa é a razão pela qual muito poucos ainda acreditam ou querem acreditar na ideia de comunidade e no sucesso do amor.

No entanto, novos grupos, determinados em cooperar com as forças da vida e jamais com as forças da morte, estão a crescer um pouco por todo o lado. Criar uma base e um objectivo comuns para estes grupos é o propósito do projecto global dos Biótopos de Cura. Estamos a criar um campo morfogenético de paz.

O comportamento individual é governado pelo poder de campos [morfogenéticos]. Estes campos têm mais influência que a opinião particular. É impossível um individuo prevalecer sobre um campo [morfogenético] forte. O fascismo cresceu de um campo de guerra, e essa é a razão pela qual conseguiu tamanha influência e supremacia sobre opiniões pessoais. O movimento de paz tem de aprender a construir tal dinâmica para fazer nascer o seu próprio campo. Não importa o quão corajoso seja um indivíduo, irá sempre falhar contra o actual campo de guerra que está implementado. No caso da Ucrânia, foi possível observar como o campo da opinião pública inibiu todas as tentativas de restaurar a paz. Este campo foi conduzido por interesses políticos e económicos do poder do Ocidente, o qual moldou a opinião pública do mundo ocidental de modo a conseguir que os governantes ficassem em Kiev e os militares enviados para a Ucrânia de leste. Eles não conseguiam pensar e ver o que estava a ocorrer por eles próprios, porque faziam parte desse campo desde o princípio.

Gostaria de partilhar alguns pensamentos relativos ao significado destes campos morfogenéticos. Precisamos de saber o que são, de modo a entendermos o que ocorreu durante a era da Alemanha fascista, porque pode ocorrer novamente, e de que modo podemos prevenir que tal aconteça.

O que permitiu a chamada de Adolf Hitler ao poder? Que forças fizeram com que tivesse quase todo o mundo a seus pés? A chave para o sucesso de Hitler tem raíz no campo morfogenético de guerra que se foi desenvolvendo ao largo da história. A população alemã estava a viver num latente campo de guerra. O mundo inteiro estava sobre a possessão demoníaca deste campo. Hitler e o seu ministro de propaganda Goebbels foram extremamente bem sucedidos em activar este campo morfogenético, e ao fazê-lo conseguiram que toda a Alemanha respirasse uma atmosfera de guerra. Indivíduos que procuravam combater este processo com a palavra de Cristo, como o teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer, não tinham hipótese, eram assassinados. De modo a confrontarmos o fascismo eficazmente, novos campos morfogenéticos têm de ser cultivados. O campo morfogenético de guerra deve ser substituído por um campo morfogenético de paz. Ambos os campos não serão, automaticamente, da mesma magnitude. O campo morfogenético de guerra já existe; os corações e as mentes humanas têm estado retidas nele há vários milhares de anos. O campo morfogenético de paz ainda não existe; ainda precisa de ser criado. É a tarefa dos novos centros e os seus meios de comunicação para criar e divulgar o campo morfogenético de paz. Assim introduzirão uma nova cultura. Quando tenha força suficiente, terá uma forte ressonância com o poder da Matriz Sagrada, e dessa forma ser capaz de superar o antigo campo de guerra. O campo morfogenético de paz é mais do que meramente a postura moralista dos indivíduos; ele abrange a nossa relação com a natureza e com todos os seres; e cria um novo contexto da sociedade humana na vida universal. Paz entre os seres humanos, paz com todas as criaturas, paz com a Terra.

Traduzido do Inglês por Mário Miguel Fernandes