Foto Keiichi Matsuura, por Yoji Okata: Uma “mandala” no leito do mar, criada pelo peixe puffer Japonês.

Reconhecemos o infortúnio que veio ao mundo através da covid-19. Reconhecemos o sofrimento dos que enfrentam mortes agonizantes e solitárias. Vemos a sobrecarga de médicos e enfermeiros, que têm estado permanentemente em serviço durante meses. Vemos o desafio emocional que recai sobre os que são agora privados dos seus contactos familiares e que por isso têm de lidar sozinhos com o seu medo do vírus. Vemos os negócios falidos e os que perdem o seu futuro. Vemos as dificuldades familiares, as crianças sem companheiros de brincadeira, as mães com excesso de trabalho, os pais desempregados, a violência doméstica. Vemos também consequências ainda mais dramáticas que resultam do vírus e, especialmente, das medidas impostas nos países do Sul Global, onde milhões de pessoas enfrentam a fome.

Desconheço a origem do coronavírus e do que possibilitou a sua disseminação global em tão pouco tempo. No início, ainda acreditávamos numa motivação divina, que poderia com isto procurar servir a cura da vida, tornar o ar mais limpo e regenerar as águas. Mas a certo ponto, suspeitámos que algo já não batia certo. Por que motivo foram ignorados os argumentos dos médicos que procuraram convencer determinadas figuras públicas a adoptar uma outra perspectiva, face às medidas de protecção?

Vemos pessoas com máscaras bizarras que se cumprimentam umas às outras com os cotovelos, escutamos todas as personalidades oficiais que repetem a mesma mensagem em uníssono, e de súbito sentimo-nos num mundo macabro de ficção científica, onde os extraterrestres hipnotizaram toda a Terra.

Não quero abordar aqui os diversos aspectos da questão, como já foi feito exaustivamente num texto recente de Tamera. Gostaria de salientar outras coisas.

Para compreender o coronavírus e as forças que poderiam ser utilizadas para curar esta pandemia, precisamos de uma visão ampla sobre o presente cenário.

“A fé move montanhas”; esta frase de Jesus contém uma verdade que pode determinar a salvação ou a destruição de inúmeras vidas. A nossa força ou resignação, a nossa felicidade ou infelicidade no amor, tudo depende daquilo em que acreditamos. Quando um paciente com cancro recebe um medicamento que se apresenta como sendo o melhor do mundo, é muito provável que o seu prognóstico melhore imediatamente. Se este souber depois que o medicamento era falso, o seu poder desvanece-se, o corpo resigna-se, ele ou ela pode morrer. Se um indiano devoto mergulha na água do Ganges sagrado e bebe a sua água contaminada, ele torna-se mais forte. Se um cidadão do mundo ocidental a bebesse, ficaria no mínimo com cólicas violentas. As nossas crenças, mesmo as inconscientes, controlam os nossos corpos e as nossas vidas. Então em que é que queremos acreditar?

Vivemos uma transição da era da matéria para a era da informação. São os campos de informação que determinam o comportamento das pessoas, e são também os campos de informação que determinam os processos do corpo humano. O ser humano tem um corpo físico e um corpo espiritual, ao qual poderíamos também chamar corpo de informação ou corpo espiritual. O que determina o rumo seguido é sempre o corpo espiritual, regulando o equilíbrio hormonal e as substâncias mensageiras que são introduzidas no organismo, as ligações neurológicas no cérebro, e os processos corporais que lhes são correspondentes. Se um paciente sucumbe ou não à doença, depende dos processos do corpo espiritual. Os inúmeros relatos de experiências de quase-morte (Anita Moorjani, Anke Evertz), curas milagrosas, salvação em situações de desespero, imunidade ao fogo e ao frio, etc., são revelações empíricas das possibilidades de sobrevivência quase ilimitadas do nosso corpo, quando este se encontra sob a direcção do corpo espiritual. Também eu o vivi de forma impressionante num acidente de carro, quando de repente “algo” assumiu o volante e evitou uma catástrofe.

O corpo espiritual tem forças de fé, vontade e amor que o ligam de uma forma especial aos campos de cura cósmicos (divinos). Nesta ligação encontram-se as forças sociais, éticas e políticas de que necessitamos actualmente, de forma a abordar a cura dos seres humanos e do mundo. Sempre que uma centena de pessoas se unem ao nível do corpo espiritual, o mundo muda.

A vida é mais forte do que qualquer vírus. Qualquer doença é passível de ser curada — esta possibilidade é inerente à própria sabedoria da vida. Mas se a informação de um vírus ameaçador é imposta ao mundo com tal veemência, até um organismo saudável pode ceder. Com uma densidade de informação cada vez maior (através dos meios de comunicação social, etc.), cresce na humanidade um corpo de informação unificado que pode assumir diferentes rumos, dependendo do pensamento das forças orientadoras: rumo a um sistema político, a uma doença, a uma guerra, a uma moralidade pública ou religião — ou também rumo à cura colectiva. A informação colectiva é sempre um factor determinante. É sempre o corpo espiritual que transmite determinada informação ao corpo físico e determina se haverá guerra ou paz, doença ou cura.

Reconheço a quantidade de figuras públicas que tentam genuinamente resolver a crise actual, ou que pelo menos procuram evitar o pior. Mas estas não reconhecem os factores subjacentes. Não reconhecem como as doenças individuais ou colectivas podem surgir de um sistema cultural que, na generalidade, se sobrepõe às regras elementares da ética e da humanidade, e que por isso nos condena a um rumo patológico. “O patogénico não é nada, o meio é tudo”, disse o cientista francês Antoine Béchamp há mais de cem anos.

A vida na Terra é um organismo coerente. Nós, humanos, juntamente com todos os outros seres, somos órgãos deste organismo unificado. O que nós, humanos, fazemos aos nossos semelhantes, volta sempre até nós sob a forma de doença. Enquanto as sociedades altamente civilizadas continuarem a produzir armas para a eliminação de outros, enquanto os hospitais e as escolas das áreas de crise deste mundo forem bombardeadas, enquanto milhões de animais forem torturados até à morte, como pode um organismo saudável desenvolver-se? Os porcos, por exemplo, são animais extremamente dóceis e cheios de alma. Se apenas na Alemanha são abatidos 60 milhões de porcos por ano, como é que se pode desenvolver uma biosfera saudável?

A actual pandemia resulta de uma infecção mental hoje disseminada por todos os governos e meios de comunicação social. Resulta de uma espécie de desinformação sistémica — seja ela intencional ou não intencional — que se opõe à cura por ignorar as forças anímicas de um verdadeiro processo de cura. Um organismo saudável que não se sente ameaçado por um alerta público de infecção, não pode ser facilmente desviado do seu rumo por um vírus. Francisco de Assis abraçou a praga sem ficar infectado. O melhor remédio contra qualquer infecção são os poderes naturais de auto-cura da vida, e a forma mais profunda de imunidade é o amor. Mas como poderá realizar-se este processo se as pessoas são privadas dos seus contactos, das suas famílias, se são forçadas a uma solidão onde já não há amor, se já nem lhes é permitido apertar as mãos? É evidente que a doença não pode ser superada por estes meios.

Todo o sistema de pensamento em torno do coronavírus está errado. Não existe contágio automático, este dá-se apenas na base de uma disposição mental ou biológica semelhante, ou seja: com base num campo coerente. Assim que o campo é dissolvido, a doença desaparece (falo a partir de décadas de prática, na convivência com diversas comunidades). Nem unindo todas as potências mundiais se poderia espalhar esta pandemia pelo globo, não estivesse já a própria humanidade num estado de doença. O coronavírus é a condensação de um campo latente de medo, dentro do qual toda a humanidade opera actualmente.

Gostaria de citar uma frase de Sabine Lichtenfels: “Quando os golfinhos nadam em água envenenada e adoecem — alguém se questiona sobre um vírus?” Se quase toda a humanidade nada em água envenenada, como podemos pensar que um vírus é a causa da nossa doença? Nas águas deste mundo envenenado, surgem diversas pandemias que já não são reconhecidas ou designadas como tal, por constituírem parte integrante da realidade quotidiana. “Pandemias” como a pneumonia, dores abdominais, cancro, depressão e uma centena de outras. O coronavírus é um vírus relativamente leve, a situação agravou-se principalmente devido às medidas implementadas — resultantes de uma aberração mental — para o combater.

Na verdade, já não se trata de uma pandemia virológica, mas sim de uma doença global que afecta a vida na Terra e que foi provocada pelo ser humano. Como resultado de uma longa história de guerra e violência, genocídio, destruição da natureza e do clima, surgiu um potencial para o medo na alma colectiva da humanidade, que é receptiva a todas as infecções. Diversos agentes patogénicos conseguem assim instalar-se em qualquer organismo que se encontre nestas condições. A pior pandemia dos nossos tempos é a pandemia do medo e da violência. É demasiado macabro, o que as pessoas fazem umas às outras e o que fazem aos animais.

Vivemos agora uma onda global de covid-19, após a qual não haverá regresso à “normalidade”. Não é preciso ser fã de teorias da conspiração para ver como os poderes financeiros dominantes lucram com esta crise. A divisão da sociedade numa minoria super-rica e numa maioria cada vez mais empobrecida assumiu proporções que impossibilitam a existência de um mundo humano.

Se esta tensão continua a aumentar, sob a pressão dos actuais sistemas hostis, estamos sem dúvida a caminhar para um desfecho dramático, que contempla toda uma nova dimensão. Estamos, definitivamente, perante um apocalipse global ou perante o início de uma época totalmente nova, assente na sacralidade da vida.

Não há tempo a perder. O genocídio, o abate de animais, a destruição da natureza, o grito de pessoas e animais torturados, pode ser ouvido do Pólo Norte ao Pólo Sul.

É claro que precisamos de terapia individual para as pessoas que sofrem. Mas em última análise, não se trata de apoiar apenas determinados indivíduos, mas de abordar uma pandemia de proporções globais.

As áreas centrais de destruição interior incluem também questões humanas que, no exterior, não aparentam ter qualquer ligação visível com a pandemia da covid-19. Falo aqui sobretudo das questões da sexualidade, do amor e da parceria. Os sistemas patriarcais fizeram tantos estragos nestas áreas da vida, que quase ninguém tem coragem de acreditar no amor ou de dizer a verdade sobre os seus próprios impulsos sexuais. É aqui que reside a ferida mais profunda, pois quase todas as abordagens a estas questões têm falhado até hoje. As sociedades e revoluções anteriores simplesmente não conseguiram estar à altura desta tarefa. Nos bastidores, estava o sofrimento omnipresente de uma saudade não redimida na sexualidade, no amor e na busca por um verdadeiro lar — com todas as suas consequências; ciúmes, violência, abandono e desespero — um drama sem fim, uma questão partilhada por toda a humanidade. 

Todos estes são antecedentes culturais, mentais e psicossomáticos de uma estrutura patológica global, sobre a qual diversas pandemias se alastram actualmente. Esta estrutura não poderá ser ultrapassada pela vacinação. Pode ser até que certos sintomas desapareçam, mas o sistema de vida do qual o vírus emergiu, não poderá ser transformado com esta abordagem. A pandemia covid-19 só pode ser ultrapassada ao nível mental-espiritual, assim que os primeiros grupos criarem uma nova base para a cura da vida. Estes grupos estarão unidos por um grande objectivo, em absoluta lealdade, em cooperação global.

O coronavírus espalhou-se por toda a humanidade como uma Fata Morgana — desenvolvendo-se na medida em que acreditamos nela. Mas por trás de cada miragem, existe uma outra realidade. Assim que as pessoas vislumbram esta outra realidade, a ilusão termina para elas.

A OUTRA REALIDADE

Não somos apenas cidadãos de um Estado ou de uma cultura específica, mas somos também cidadãos do universo. Será que não emergimos todos deste outro mundo? Que força nos fez nascer, quem ou o que terá moldado os nossos órgãos e células? De onde vem o poder da sexualidade? Quem nos terá dado a força para amar e para a solidariedade, para a indignação e a coragem?

Obviamente, vivemos em dois mundos diferentes: o mundo que nós, humanos, criámos, e o mundo que nos fez nascer. Estes dois mundos devem unir-se para curar o vazio interior que percorre toda a humanidade.

Se já não nos deixarmos levar completamente pelas principais ideologias do nosso tempo, se ainda existir um espaço livre no nosso cérebro e no nosso coração para as maravilhas da vida e do amor, o que é que vemos? Talvez seja necessário conseguirmos vislumbrar o céu, de forma a enfrentar sem medo o inferno. Deus não é mais do que a imagem mais profunda do amor cósmico.

Há uma força sagrada no universo que brilha até ao fundo do mar, onde o peixe puffer pinta a sua mandala perfeita (este fenómeno incrível pode ser visto online e na fotografia no início deste texto). Sem esta força, nenhuma criança poderia nascer, nenhuma flor poderia desabrochar e nenhuma estrela poderia brilhar no céu. Esta força permite expandir os limites das nossas próprias capacidades, para ajudar os que mais ninguém pode ajudar; faz com que as pessoas resistam à injustiça e à violência, mesmo nas condições mais difíceis; une pessoas e animais sempre que deixa de existir medo entre eles. Encontramos esta força a toda a hora assim que começamos a aperceber-nos dela. Agradeço a esta força, por ter salvo a minha vida por diversas vezes, salvando também a minha vida e a da minha parceira em Gomera de uma situação desesperada — e por último, mas não menos importante, é a força sagrada do amor entre os géneros, da qual todos os seres humanos emergiram.

Ocorre actualmente uma transformação para a qual ninguém estava preparado. Não é altura de ceder à polarização, mas de abarcar uma nova forma de pensar. Já não nos limitaremos às antigas formas de apelos, eventos e manifestações, mas desenvolveremos uma nova base espiritual para a vida. O que agora é exigido de nós e de toda a humanidade é, fundamentalmente, a transição da velha matriz da destruição para uma nova matriz da cura. Isso é regressar à Fonte, e implica a reunificação com as forças mais elevadas dessa ordem global que ruma sempre à unidade, ao amor e à cura. Chamamos-lhe “Matriz Sagrada” ou “Campo Cósmico de Cura”.

O que o futuro nos reserva, depende do pulsar da vida que atravessa o coração e a mente das pessoas. Se continuarmos a acreditar na miragem, muitos mais terão de morrer. Quando deixarmos de acreditar na miragem, o nosso espaço mental torna-se livre para o despertar e para a cura. Em nome desta possibilidade, os fundadores da Escola de Paz de Tamera, em Portugal, formularam o conceito de Biótopos de Cura. O que importa agora é fazer com que a ordem global da Matriz Sagrada seja ancorada na Terra. Nós, humanos, podemos fazê-lo porque transportamos a sua marca ética dentro de nós. Se este processo puder ser realizado nos primeiros grupos, poderá realizar-se também em todo a parte, porque todos os seres humanos estão — por mais distorcidos que estejam — ligados com esta ordem global, pois caso contrário não poderiam viver.

Os Biótopos de Cura são poderosos campos de vida, cujas frequências coincidem com as do campo de cura cósmica, entrando assim em ressonância com elas. Isto gera uma energia vital que pode surtir efeito em toda a parte, porque o campo de cura cósmica se encontra também em toda a parte. Se apenas uma fracção dos que lêem este texto entrasse em ressonância com o campo de cura cósmica, teríamos — como resultado da formação de um campo morfogenético — um impacto de cura em toda a humanidade.  Actualmente não se trata de resolver milhares de problemas individuais, mas de construir campos fortes e coerentes nos quais as diversas tarefas da vida — da agricultura regenerativa, à verdade no amor — são combinadas num campo unificado de informação.

O corpo espiritual da humanidade necessita agora de nova informação. Informação que se encontre em harmonia com a vontade de viver, existente em cada ser humano e animal. Se foi possível espalhar o vírus do medo, coronavírus, por todo o mundo, é também possível espalhar um contra-campo positivo. Todos temos esta capacidade inerente, simplesmente pelo facto de sermos seres humanos. A Terra precisa de informação que, tal como um novo “vírus de cura”, toque o coração da humanidade — criando uma experiência interior de unidade e proporcionando aquela grande união na Terra, sonhada pelo grande plano da Criação. 

Em nome de um futuro no qual valha a pena viver. 

Em nome do amor por todas as criaturas.